História do Autismo: A Origem do Termo e as Primeiras Definições
A história do autismo é um tema que tem despertado cada vez mais interesse, à medida que a sociedade se torna mais consciente e informada sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). A compreensão sobre o autismo passou por uma grande evolução ao longo dos anos, desde as primeiras tentativas de definição até os avanços mais recentes nos métodos de diagnóstico. Este artigo explora a história do autismo, destacando como as definições e diagnósticos se desenvolveram ao longo do tempo.
A palavra “autismo” foi cunhada pela primeira vez em 1908 pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, que a utilizou para descrever um sintoma de esquizofrenia. O termo passou a descrever uma retirada da realidade e uma imersão em um mundo interior. No entanto, o autismo como o conhecemos hoje começou a ser delineado somente em 1943, quando o psiquiatra infantil Leo Kanner identificou o autismo infantil precoce como uma condição distinta, caracterizada por obsessões, déficits no comportamento social e uma forte necessidade de rotina e previsibilidade.
Ainda em 1943, Leo Kanner publicou um artigo descrevendo 11 crianças que apresentavam características incomuns de isolamento social, comportamentos repetitivos e dificuldades de comunicação. Kanner cunhou o termo “autismo infantil precoce” para descrever essas crianças, que, segundo ele, pareciam estar “em seus próprios mundos” (Abacus Therapies).
No ano seguinte, em 1944, o psiquiatra austríaco Hans Asperger descreveu um grupo de crianças que, embora apresentassem comportamentos semelhantes aos observados por Kanner, tinham habilidades linguísticas mais desenvolvidas e frequentemente demonstravam interesses restritos e específicos. Esta condição ficou conhecida como “Síndrome de Asperger” e foi considerada uma forma mais leve de autismo (SARRC).
Evolução das Definições e Diagnósticos
Nos anos 1960, a compreensão do autismo ainda era limitada, e uma teoria predominante, promovida por Bruno Bettelheim, atribuía a causa do autismo a pais emocionalmente frios, particularmente as mães, referidas como “mães geladeiras”. Essa teoria foi amplamente desmentida, especialmente após estudos que destacaram o papel significativo da genética no desenvolvimento do autismo, como o estudo de 1977 de Susan Folstein e Michael Rutter, que mostrou uma alta incidência de autismo em gêmeos idênticos. (Abacus Therapies).
Em 1980, o autismo foi oficialmente reconhecido como um transtorno distinto no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-III), separando-o da esquizofrenia. O DSM-III estabeleceu critérios específicos para o diagnóstico, incluindo perturbações na comunicação, comportamento repetitivo e dificuldades de interação social. Em 1987, o DSM-III-R ampliou ainda mais os critérios para incluir casos mais leves, refletindo uma maior compreensão da diversidade dentro do espectro autista.
Nos anos 1990, o DSM-IV introduziu subcategorias dentro do espectro do autismo, incluindo a Síndrome de Asperger, que descrevia indivíduos com funcionamento cognitivo superior, mas com dificuldades sociais significativas.
A Consolidação do Transtorno do Espectro Autista (TEA)
A história do autismo teve um marco importante em 2013, com a publicação do DSM-5, que consolidou várias condições anteriormente separadas, como o autismo clássico, a Síndrome de Asperger e o Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, sob o termo único “Transtorno do Espectro Autista” (TEA). Essa mudança refletiu a compreensão de que essas condições compartilhavam características comuns, mas variavam em termos de intensidade e manifestação (SARRC).
Essa redefinição teve um impacto significativo nos diagnósticos, permitindo uma abordagem mais flexível e individualizada, reconhecendo que o autismo se manifesta de diferentes maneiras em diferentes indivíduos.
Impacto na Percepção Pública e Acesso a Serviços
Os métodos de diagnóstico do autismo evoluíram dramaticamente ao longo do tempo. No passado, o diagnóstico era frequentemente feito apenas na infância, muitas vezes com base em observações comportamentais gerais.
A evolução das definições de autismo teve um impacto significativo na percepção pública e no acesso a serviços. Por exemplo, a inclusão do autismo como uma categoria de deficiência educacional nos Estados Unidos em 1990 facilitou o acesso a educação especial para indivíduos com autismo. No entanto, mudanças nas definições diagnósticas, como as feitas no DSM-5, levantaram preocupações sobre a elegibilidade para esses serviços, destacando a importância de critérios diagnósticos claros e abrangentes.
A história do autismo é uma jornada complexa que reflete não apenas o progresso na ciência médica, mas também as mudanças nas atitudes sociais e na compreensão do que significa viver com autismo. A constante evolução das definições e dos critérios de diagnóstico é um testemunho do esforço contínuo para melhor entender e apoiar as pessoas no espectro autista.
Fontes:
- The Autism History Project
- The Recovery Village
- National Autistic Society