A prevalência de diagnósticos de autismo em meninos é notoriamente maior do que em meninas, com uma proporção de quase 4 para 1, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Essa diferença tem gerado diversas questões sobre os fatores biológicos e culturais que podem influenciar essa disparidade. Neste artigo, exploraremos as razões pelas quais meninos com autismo são diagnosticados com maior frequência do que meninas, abordando fatores como critérios de diagnóstico, estereótipos e diferenças comportamentais.
Fatores Biológicos e Genéticos
Uma das teorias principais sobre o motivo pelo qual mais meninos são diagnosticados com autismo do que meninas é a predisposição biológica. Estudos indicam que os fatores genéticos podem desempenhar um papel fundamental, com algumas pesquisas sugerindo que as meninas podem ter uma “proteção” biológica que as torna menos suscetíveis a desenvolver autismo. Isso se reflete na observação de que irmãs de meninos com autismo frequentemente não desenvolvem a condição, apesar de estarem expostas a fatores genéticos semelhantes.
Além disso, há indícios de que o autismo pode se manifestar de maneiras diferentes entre os sexos. Meninas com autismo tendem a apresentar sintomas mais sutis ou diferentes em comparação aos meninos, o que pode dificultar o diagnóstico. Por exemplo, enquanto meninos com autismo muitas vezes exibem comportamentos repetitivos e dificuldades de comunicação evidentes, meninas podem mascarar esses sinais através de uma adaptação social mais eficaz, o que faz com que o autismo passe despercebido em muitos casos (University of Virginia) (Undivided).
Estereótipos e Critérios de Diagnóstico
Outro fator que contribui para o maior diagnóstico de meninos com autismo é a maneira como os critérios de diagnóstico foram historicamente desenvolvidos. Muitas das características consideradas típicas para o diagnóstico de autismo foram baseadas em estudos predominantemente com meninos. Como resultado, as meninas que não se enquadram nesses critérios acabam sendo subdiagnosticadas ou mal diagnosticadas.
Por exemplo, as meninas são frequentemente mais capazes de “mascarar” seus sintomas, adotando comportamentos sociais que as ajudam a se encaixar melhor em grupos. Isso leva a uma menor identificação dos sinais típicos de autismo, como comportamentos repetitivos e dificuldades de interação social. Como resultado, muitas meninas só são diagnosticadas quando apresentam desafios emocionais significativos, como ansiedade ou depressão, o que muitas vezes ocorre em estágios mais avançados da vida (Undivided).
Diferenças no Desenvolvimento Comportamental
Estudos mostram que há também diferenças no desenvolvimento comportamental de meninos e meninas com autismo. Enquanto meninos tendem a exibir comportamentos que chamam mais atenção, como dificuldade em lidar com mudanças ou crises de raiva, as meninas frequentemente internalizam seus desafios, o que pode passar despercebido por pais e professores. Isso faz com que muitas meninas só recebam um diagnóstico de autismo na adolescência ou na idade adulta, enquanto os meninos são diagnosticados em idades mais precoces.
Um exemplo real desse desafio é o caso de uma jovem diagnosticada com autismo apenas aos 16 anos, após anos de luta com ansiedade e dificuldades de socialização. Durante a infância, ela foi vista como “tímida”, o que mascarou seus verdadeiros desafios. Apenas quando as exigências sociais se intensificaram na adolescência, seu autismo foi reconhecido (University of Virginia).
Impacto do Diagnóstico Tardio em Meninas
O diagnóstico tardio de meninas com autismo pode ter consequências significativas. Muitas vezes, essas meninas enfrentam desafios emocionais mais graves, como ansiedade e depressão, devido à falta de apoio adequado desde cedo. Além disso, o diagnóstico tardio significa que essas meninas perdem oportunidades de intervenções precoces, que poderiam melhorar suas habilidades sociais e acadêmicas, além de minimizar o impacto do autismo em suas vidas diárias.
Pesquisadores estão cada vez mais focados em entender melhor essas diferenças de gênero no autismo, com o objetivo de criar ferramentas de diagnóstico mais inclusivas e sensíveis às necessidades específicas das meninas. Esse tipo de pesquisa é fundamental para garantir que todas as crianças, independentemente do sexo, recebam o suporte e as intervenções de que precisam para prosperar.
Conclusão
A razão pela qual meninos com autismo são diagnosticados com mais frequência do que meninas é multifatorial, envolvendo fatores biológicos, genéticos, comportamentais e culturais. Embora o autismo afete ambos os sexos, a maneira como ele se manifesta e como é diagnosticado pode variar consideravelmente. Compreender essas diferenças é crucial para melhorar a precisão dos diagnósticos e garantir que tanto meninos quanto meninas recebam o suporte necessário o mais cedo possível.